A PRIO dá o nome aos Global Mobi Awards deste ano. Conversámos com o CEO da marca, Pedro Morais Leitão, 54 anos, sobre mobilidade elétrica, biocombustíveis e quais os planos da empresa para o futuro.
Este ano, a PRIO é o title sponsor dos Global Mobi Awards. Qual a importância deste tipo de acontecimentos para a atividade da empresa?
A PRIO é uma empresa de energias do futuro para a mobilidade. Sentimos que é parte da nossa missão promover a mobilidade sustentável, e vemos esta iniciativa como um passo no sentido de um mundo melhor.
Desde 2006, quando a PRIO iniciou a sua atividade, quais foram as principais mudanças que o setor dos combustíveis enfrentou?
A PRIO iniciou a sua atividade em 2006 focada na produção de biocombustíveis. Foram as resistências à adoção deste produto, benéfico para o ambiente, que a forçou a entrar nos combustíveis. Olhando para trás, diria que existe cada vez mais o sentimento de urgência relativamente ao tema das alterações climáticas e a necessidade de as combatermos, como por exemplo através de energias renováveis e aposta em soluções energéticas mais eficientes.
Como analisa a fiscalidade sobre os combustíveis em Portugal? Acha que retira competitividade à economia portuguesa?
A carga fiscal sobre os combustíveis em Portugal é extremamente pesada. Mas, com a criação do regime do gasóleo profissional em 2017, este Governo deu um passo importante para minorar o impacto da carga fiscal sobre os combustíveis na competitividade da economia Portuguesa. Acreditamos que este regime tem dado bons resultados, e que poderá ser alargado de maneira a incentivar a utilização de biocombustíveis. Os veículos pesados são responsáveis por uma parte importante do consumo de combustíveis, e portanto por uma parte igualmente importante da emissão de gases com efeito de estufa. Adicionalmente, estão preparados para um nível mais alto de incorporação de biocombustíveis do que os veículos ligeiros, pelo que incentivá-los a utilizar mais biocombustíveis terá efeitos importantes na redução das emissões.
Os agentes deste mercado sentem que existe um plano concreto dos sucessivos governos para a energia?
Os planos para a energia são cada vez mais desenhados em Bruxelas, através das Diretivas Europeias. E as Diretivas são normalmente resultado de muita ponderação sobre os objetivos globais a nível Europeu e as posições individuais de cada Estado-membro. Os nossos Governos só têm de conhecer bem as especificidades do nosso mercado para assegurar que o progresso no caminho Europeu não se traduz num retrocesso no caminho Português. A segunda Diretiva Europeia para as Energias Renováveis, cuja transposição será feita ao longo de 2020, apresenta alguns riscos de retrocesso, particularmente no que respeita aos biocombustíveis.
A PRIO distinguiu-se, enquanto fabricante, pela aposta no Biodiesel. Essa área continua a ter futuro?
A PRIO acredita que o biodiesel é uma energia de futuro, menos poluente, mais sustentável, capaz de gerar emprego e riqueza em Portugal, e pelo que lemos na segunda Diretiva das Energias Renováveis, a União Europeia acredita no mesmo que nós a este respeito.
A sustentabilidade e a proteção do meio-ambiente podem ser defendidas por empresas cuja principal atividade é a comercialização de combustíveis de origem fóssil?
A PRIO é uma empresa de energias do futuro para a mobilidade. Este posicionamento leva-a a que se foque nos biocombustíveis avançados e sustentáveis, mobilidade elétrica, GPL, entre outros produtos, incluindo combustíveis fósseis. Queremos ser parte da solução para o problema das alterações climáticas e contribuir ativamente para a transição energética e para a descarbonização e temos dados passos relevantes para isso. Infelizmente e como referi, sentimos que tem havido diversos entraves externos a um progresso ainda mais rápido em direção a esse objetivo.
Como quer a Prio ser mais verde na próxima década?
A PRIO quer e vai continuar a investir nos biocombustíveis, no carregamento elétrico e na geração fotovoltaica. Acreditamos que estes serão os três principais fatores para a transição energética em Portugal.
A PRIO investiu muito na mobilidade elétrica, ainda antes desta ser um negócio. Atualmente já é?
A PRIO prevê ter receitas de 200 mil euros na mobilidade elétrica em 2019 e gostaria de ultrapassar a faturação de 1 milhão de euros em 2020. Por isso, vê a mobilidade elétrica claramente como um negócio. Infelizmente, ainda é um negócio com muita incerteza tecnológica e regulatória, o que dificulta as projeções de investimentos a longo prazo.
Os utilizadores queixam-se da complexidade das tarifas praticadas nos carregamentos rápidos. Têm razão? Não haverá forma de simplificar esta questão?
Acreditamos que os utilizadores mais frequentes de carregamentos rápidos já ultrapassaram essa dificuldade inicial de compreensão das tarifas. E vemos nos clientes da PRIO uma boa adesão à simplicidade que lhes propomos.
Já é utilizador de veículo elétrico?
Sim. Utilizo um Smart elétrico nas minhas deslocações em Lisboa e gosto bastante. Julgo que para utilização num perímetro urbano, os elétricos já são uma verdadeira alternativa. Para quem, como eu, faz 800 km por semana, no mínimo, é difícil usar um automóvel elétrico. A indústria automóvel está a tratar da questão da autonomia, mas também terá que tratar da questão dos carregamentos. Nos automóveis com motor de combustão, habituámo-nos a parar 10 ou 15 minutos e podemos seguir, com a autonomia a 100%. Com os elétricos isso ainda não é possível.
E a sociedade civil, vai conseguir fazer as mudanças necessárias para reduzir o impacto ambiental das nossas vidas? Na mobilidade mas também no trabalho e na forma como nos organizamos?
Eu acho que sim. Vemos sempre estas questões do lado negativo, mas temos visto bons sinais. A questão do buraco do ozono, por exemplo, teve uma resposta adequada, com a redução dos CFCs. Temos o problema do CO2 e do Dióxido de Azoto, os NOX. Quanto a esses, vamos ter que tomar medidas para os reduzir. Os primeiros podem ser reduzidos com a utilização de biocombustíveis, por exemplo. Podia ser feito para o transporte terrestre, mas também para navios e aviões. Mas essas soluções têm custos, que tornam o mundo mais caro. Mas à medida em que vão existindo consensos nas ações a tomar, estas serão adoptadas. Por vezes, este processo fica mais lento por existirem dúvidas científicas sobe o caminho a seguir. Estas dúvidas são também amplificadas pelos interesses, num ou noutro sentido. Os interesses acabam sempre por atrasam o ritmo do progresso. Mas acredito nas boas intenções da humanidade e acho que temos feito um grande progresso, sobretudo, neste século.
A produção de energia elétrica através de fonte renovável pode tornar-se uma área de negócio para a PRIO?
A PRIO já produz energia fotovoltaica em 60 postos, em regime de auto-consumo. Estamos a considerar um investimento para produzir eletricidade para auto-consumo pela nossa fábrica de biodiesel em Aveiro, e estamos a acompanhar com atenção o leilão de energias renováveis lançado neste mês de julho pelo Governo Português.
Será que algum dia poderemos contratar energia elétrica da Prio nas nossas casas?
A PRIO tem analisado a possibilidade de investir mais na comercialização de eletricidade no regime geral, por enquanto prefere assegurar que tem uma boa proposta para a mobilidade elétrica.
O atual governo tem um discurso muito positivo relativamente à mobilidade elétrica. Os atos podiam acompanhar de mais perto as palavras?
Na frente da mobilidade elétrica, acreditamos que chegou a altura de as marcas automóveis apresentarem a sua oferta de veículos elétricos para o mercado de massas. Se essa oferta aparecer, haverá massa crítica no carregamento elétrico que permitirá o investimento necessário. Acreditamos que não é necessária mais intervenção do Estado.
Existe a possibilidade de internacionalização da atividade da PRIO?
A PRIO tem alguns projetos em análise para o mercado espanhol, particularmente na Galiza, na área da comercialização e distribuição de combustíveis. Temos algumas parcerias com produtores de biocombustível em Espanha, que poderemos utilizar em ambos os mercados. Estamos a estabelecer acordos que permitam que o Cartão PRIO Frota seja também utilizado no país vizinho, nomeadamente por transportadores rodoviários nacionais.
Qual o segredo do sucesso da PRIO para, em 12 anos, se afirmar num setor que, durante muitas décadas, parecia fechado a novos players?
Três fatores, bem conhecidos: 1º a visão e a iniciativa do fundador, Engº Carlos Martins; 2º a robustez financeira e a disciplina do atual proprietário, a Oxy Capital; 3º a capacidade de trabalho e a dedicação ao projeto de todos os que aqui trabalham.
Adelino Dinis