A mobilidade elétrica em Portugal está bem e recomenda-se, no contexto dos mercados do sul da Europa. Quer isto dizer que, sem podermos aspirar às condições existentes em países como a Noruega ou a Holanda, temos assistido, todavia, a uma receptividade muito grande por parte do público e, em consequência, também por uma parte significativa da classe política.
As vendas de automóveis elétricos no primeiro semestre revelam um crescimento de mais de 100% em relação ao período homólogo de 2018 que, por sua vez, tinha já um crescimento semelhante face a 2017. Claro que os VE continuam a representar uma pequena fatia do mercado nacional, mas a tendência será de crescimento contínuo, aumentando sucessivamente o seu peso face aos veículos com motor de combustão.
Neste primeiro semestre, o VE mais vendido foi o Model 3, uma surpresa para alguns, tendo em conta o seu preço mais elevado face ao Renault Zoe e ao Nissan Leaf, que ocupam os restantes lugares do pódio.
Podemos questionar-nos se este é um ritmo adequado ou se devia ser mais rápido. Idealmente, em termos de redução de emissões locais — significativo sobretudo nos centros urbanos — podemos aspirar a uma evolução mais rápida. Todavia, a mobilidade elétrica é muito mais do que a soma das unidades vendidas. A infraestrutura necessária, sobretudo ao nível dos ossos de carregamento, precisa de ser atualizada e aumentada, pelo que um crescimento gradual do mercado faz sentido. Também a forma como produzimos energia deve transformar-se, à medida em que o peso das renováveis aumenta.
Deve ainda notar-se que a oferta de veículos elétricos tem, por enquanto, aumentado a conta-gotas. No final desde ano chegará o novo Renault Zoe, o novo Hyundai Ioniq, bem como os pequenos trigémeos do grupo VW (VW eUp!, Seat Mii Electric e Skoda
CITIGOe). Para o ano começarão a chegar os novos eléctricos da PSA (Peugeot e-208 e e-2008 Opel Corsa-e DS 3 Crossback e-Tense), bem como o Honda e, o Polestar 2 da Volvo e o VW I.D.3. A escolha aumenta e, esperamos, os preços vão descer, tornando a mobilidade elétrica acessível a um maior número de pessoas.
Será possível continuar a crescer 100% ao ano? Restam poucas dúvidas disso, o que é notório pelo investimento anunciado por boa parte dos construtores que atuam no mercado europeu.
Importa também reconhecer que esta revolução energética não passa apenas pelo automóvel. Para uma geração jovem — de corpo e de cabeça — a mobilidade elétrica manifesta-se na utilização da bicicleta, moto, trotineta ou roda elétrica. A comodidade, custo moderado e a consciência tranquila na redução da pegada ecológica, aliadas ao divertimento que proporcionam, são essenciais para a mudança de mentalidades que avança todos os dias mais um pouco.
Adelino Dinis
Watts On