Cristina Borges Correia, Diretora de I&D e Inovação da Prio explica as etapas e as vias de desenvolvimento de tecnologias e energias de transição para uma economia descarbonizada.
Qual é a visão da PRIO para o futuro da mobilidade e as principais tendências que podemos esperar nos próximos anos?
As soluções de mobilidade elétrica começam a ganhar dimensão, apesar de ainda termos um longo caminho a percorrer. A tendência começa a ser consistente e a mostrar o potencial das soluções de mobilidade elétrica, sobretudo para os veículos ligeiros. A PRIO, desde a sua criação, que se posicionou como uma empresa de energias para a mobilidade do futuro, apostando em combustíveis sustentáveis que sejam promotores de uma verdadeira transição energética. A PRIO é a maior produtora de biocombustíveis em Portugal e a terceira maior produtora europeia de biodiesel a partir de matérias-primas residuais, transformando óleos alimentares usados em diversos combustíveis quer para automóveis, quer para navios, com diferentes níveis de incorporação de biocombustíveis, que reduzem consideravelmente as emissões de CO2.
Recentemente a PRIO começou também a dar os primeiros passos no Hidrogénio Verde, estando a estudar três investimentos que poderão ajudar na descarbonização económica. Esta é uma nova fonte de energia bastante sustentável e cujo potencial de utilização em aplicações na mobilidade e na indústria é enorme, e que pode ser utilizada quer diretamente quer como precursora de combustíveis sustentáveis compatíveis com infraestrutura e frotas existentes
O futuro da mobilidade está nas várias tecnologias que podemos usar. Desde o biodiesel de resíduos que tem níveis de emissão de CO2 muitíssimo mais baixos que o diesel normal, passando pela possibilidade das novas tecnologias de hidrogénio, até ao elétrico. Claro que o futuro vai ser mais verde, mais eficiente, mais tecnológico e a PRIO estará sempre na dianteira do pelotão no que toca a explorar novas soluções. Acreditamos que se até há pouco tempo vivemos com um monopólio de soluções energéticas baseadas no petróleo, o futuro passará por uma panóplia de soluções complementares entre si.
A eletrificação poderá demorar mais ou menos, mas ainda terá o seu caminho e o seu tempo, é transversal aos mercados europeus. O parque automóvel vendido atualmente, ainda é 95% composto por motores de combustão. Mesmo com o aproximar de 50% dos veículos vendidos em PHEV e BEV, demorará a chegar a 10% do parque automóvel. São décadas.
Têm sido diferentes as soluções inovadoras que a PRIO tem vindo a trabalhar, como, por exemplo, a substituição dos combustíveis fósseis por limpos, os biocombustíveis, como o biodiesel de resíduos. Atualmente são produzidas cerca de 90.000 toneladas de biocombustível por ano na Fábrica de Bicombustíveis da PRIO, no Porto de Aveiro. Os biocombustíveis avançados a partir de resíduos emitem menos 84% de CO2 e são, hoje em dia a solução de descarbonização mais imediata, mais radical e mais eficiente. Assumem também cada vez mais relevância o CCS (Carbon Capture and Storage), o HVO (Hydrotreated Vegetable Oil), o bioetanol que ajuda a economia circular ao obter o biocombustível a partir de biomassas residuais, e o próprio hidrogénio verde. Num futuro próximo, os combustíveis sintéticos começarão também a aparecer no mercado.
O setor dos transportes está em profunda mutação, como vão ser as grandes frotas do futuro?
O futuro aponta para a importância do processo de reconversão energética quer nas frotas de passageiros terrestres quer marítimos. A mobilidade continua a crescer, com cada vez mais kms percorridos e por isso a aposta numa mobilidade sustentável é um imperativo: oferecer uma transição progressiva de uma economia fóssil para uma economia mais verde, que tenha como base o desenvolvimento sustentável, é fulcral para a sociedade. As políticas ambientais e as definições da UE em relação ao meio ambiente estão na ordem do dia e devem ser encaradas como uma oportunidade para as empresas se reinventarem. Descarbonizar as operações apostando na tecnologia para criar mais eficiência, poupança e competitividade deve ser uma das maiores prioridades para uma transição energética que proteja o planeta.
Na PRIO temos feito o nosso caminho para acelerar a transição energética na mobilidade e sabemos que as frotas de pesados e ligeiros exercem grande impacto nesse processo.
Temos já algumas soluções, como é o caso da iniciativa Beato Bio Bus, uma carreira de autocarro da Carris movida a Zero Diesel, a nossa solução 100% biodiesel a partir de resíduos através da utilização do nosso combustível Zero Diesel, oito autocarros vão poder poupar mais de 400 mil litros de gasóleo, por ano. Isto traduz-se em cerca de 1.118 toneladas de CO2 que não serão emitidas para o meio ambiente.
Tendo em conta o caminho já percorrido no setor rodoviário, a PRIO quer alargar a sua rota e contribuir ativamente também para descarbonização do setor marítimo. Desta forma, o objetivo é alargar esta oferta verde ao segmento marítimo.
E para isso, a PRIO tem feito um esforço concertado para encontrar as melhores soluções para ajudar na descarbonização do transporte marítimo e ajudar os Portos a encontrar soluções viáveis e imediatas para a Transição Energética. Exemplo foi o recentemente lançado e desenvolvido pela PRIO na Fábrica de Biocombustível de Aveiro, Eco Bunkers, o primeiro combustível verde marítimo na Península Ibérica, que para além de mais sustentável é mais eficiente.
Sendo uma empresa que comercializa combustíveis fósseis, como pode a PRIO contribuir para as metas de descarbonização?
O foco da PRIO é a constante otimização da tecnologia instalada e a procura por novas soluções tecnológicas para melhor contribuir para os desafios da transição energética. Assim, desenvolvemos produtos que respondem às necessidades dos consumidores, contribuem para a transição energética e impulsionam a economia circular. Produzimos biocombustíveis avançados, a partir de resíduos, que, no caso dos provenientes do tratamento de óleos alimentares usados e outros resíduos, emitem cerca de 84% menos CO2, face ao diesel tradicional. Acreditamos que os biocombustíveis avançados são hoje a solução de transição mais rápida, mais eficiente e mais justa, uma vez que não requerem a construção de novas infraestruturas. Desde 2010, a PRIO assume um importante papel no caminho da Mobilidade Elétrica, sendo uma empresa de referência neste setor, advogando todos os dias por um aumento das obrigações de renováveis no transporte em Portugal. Já há vários anos que comercializamos apenas energia de fontes 100% sustentáveis nos nossos pontos de carregamento elétrico.
Qual a missão e a responsabilidade social de uma empresa como a PRIO?
A PRIO posiciona-se como uma empresa de energias para a mobilidade do futuro, apostando em combustíveis sustentáveis que sejam promotores de uma verdadeira transição energética. Num sistema em transição mais lenta do que o esperado, a PRIO tem trabalhado sempre com objetivos ambiciosos, considerando uma abordagem que contemple soluções inovadoras, especialmente no curto e médio-prazo e que acrescentem valor ao país. Apesar de todas estas soluções que temos vindo a desenvolver, estamos conscientes de que ainda há muito trabalho a fazer. As pedras basilares da nossa estratégia para a transição energética estão lançadas e sabemos que o nosso caminho será cada vez mais verde e sustentável. Sabemos também que, enquanto país, poderemos ultrapassar confortavelmente os 20% de energias renováveis nos transportes a que nos propusemos chegar em 2030, fazendo esse caminho com soluções que ajudem a desenvolver economicamente o nosso país. O desafio é grande, mas na PRIO estamos prontos.
Na bioenergia: além de diversos projetos de investigação em novas frentes de produção de biocombustíveis avançados sustentáveis, preparámos também produtos como o EcoDiesel e o ZeroDiesel, que são substitutos diretos do gasóleo, compatíveis com a frota existente.
Na mobilidade não rodoviária: entrámos em 2021 no segmento da energia para navios, e fizemo-lo com um produto pioneiro na Península Ibérica. Na mobilidade elétrica: embora estejamos a falar de uma solução cujo verdadeiro potencial manifestar-se-á a longo prazo, estamos apostados em fazer com que esse longo prazo demore o mínimo de tempo possível a chegar aos portugueses.
No hidrogénio verde: temos em carteira três projetos de investimento nesta área, dois dos quais são parte da lista de projetos estruturantes da estratégia nacional para o setor. Por fim, e porque a PRIO se pauta por uma conduta responsável do ponto de vista dos negócios que promove, a empresa suspendeu a aquisição de produtos a empresas russas ou diretamente relacionadas e deixou de considerar estas empresas como seus fornecedores, resultado da invasão da Ucrânia pela Rússia. Recorde-se que no ano passado a PRIO transacionou com empresas russas ou diretamente relacionadas, cerca de 20 milhões de euros em equipamentos, combustíveis e matérias-primas para biocombustíveis avançados, o que representou 2,5% das suas compras ao longo de 2021.